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OPINIÃO: O silêncio do futebol

A Copa do Mundo começa no dia 14 de junho e finaliza em 15 de julho, ou seja, começa na próxima semana! Houve tempos em que decorei a casa e preparei os quitutes nas cores da bandeira para serem consumidos na hora dos jogos. As roupas para esses momentos eram escolhidas a dedo, visando dar sorte para nossa seleção. Cornetas, apitos e confetes traziam alegria para o ambiente. Pelé, Garrincha, Rivelino, Tostão, Ronaldo(s) percorrem nossa memória quando falamos em jogadores de destaque na história das copas do mundo. Quem não lembra do "Vai que é tua Tafarel!". Agora, se me perguntarem quem são os jogadores que vão para o campeonato mundial de futebol, só vem um nome na cabeça. Sim, esse mesmo: começa com N e termina com r. Éramos conhecidos, inclusive, como o país do samba e futebol. Mas não conseguimos sequer assoviar tristes e o futebol anda, literalmente, mal das pernas.

O clima na cidade está "murcho". Poucas lojas decoradas. Parece que não investiram muito, pois perceberam que o povo não está confiante. Até agora nenhum grupo de amigos sugeriu algum tipo de 'bolão' para apostar quem será o campeão. Nem mesmo conferir os horários dos jogos do Brasil para saber se o expediente será cancelado foi comentado. Vocês podem até dizer que não sou fanática pelo esporte e eu confesso: é verdade! Sou colorada. Já fui mais atenta ao meu time, mas faz tanto tempo que ele vem patinando que desisti de sofrer. Não deixei de ser colorada, nada disso. Mas pensar que jogadores ganham muito bem e não conseguem virar o jogo, no mínimo, me aborrece. Considero extremamente desigual em relação aos demais trabalhadores desse país que lutam diariamente pela sobrevivência e ainda ouvem que usam um "jeitinho brasileiro".

Vejo nossa população como guerreira e corajosa. Acredito que acordar todos os dias e usar transporte de baixa qualidade, receber salários que são devorados pelos impostos e não ter qualidade nos serviços públicos, é um "senhor jeitão" de enfrentar a vida. Talvez o desânimo seja advindo do 7 x 1 na última Copa. Sim, aquele jogo que piscávamos os olhos e gritavam gol. Caiam as pipocas do prato e nós, atônitos, tentando crer que era replay. Desejo, sinceramente, que não tenhamos repeteco desse fiasco. Ouvi de um amigo que estamos desanimados porque as nossas necessidades básicas não estão sanadas: falta educação e saúde de qualidade, políticos decentes e acesso aos bens de consumo básicos. Como pensar em futebol nessa situação? Como vibrar sabendo que fretaram um avião com 90 lugares de primeira classe para os jogadores e equipe partirem para a Rússia e a gente aqui, pensando nas consequências de uma greve? Como não ficar descontente se a própria CBF está na lista interminável de corrupção?

O pressentimento que tenho é de que os meninos estão com preguiça de jogar, e isso causa desânimo na torcida. É incrível, mas tenho a sensação que sabemos mais do estilo de jogo do Messi da Argentina ou do Cristiano Ronaldo de Portugal. E olha que tenho muito orgulho de ser brasileira. Enfim, nem posso dizer que estou tão desiludida, pois confeccionei minha camiseta para o caso de assistir algum jogo. Ela é verde e amarela. Na frente está impressa a frase: "Jogue como uma menina" e nas costas "Marta, número 10". Afinal, as mulheres jogam um bolão, e, para variar, ganham bem menos.

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